O grito, além de exteriorizar emoções de quem o solta, provoca alarde em
quem o escuta. Os efeitos no cérebro desse compartilhamento de sensações
foram descobertos por cientistas dos Estados Unidos e da Suíça, e divulgados
na revista Current Biology.
Segundo os cientistas, este som começa activando os canais auditivos e
chega à amígdala, grupo de neurônios ligados à regulação de sentimentos,
incluindo o medo, a paixão e a agressividade. Por isso, um barulho
estridente, como um alarme de relógio, é tão difícil de ser ignorado. A
vontade de estudar o efeito do grito no cérebro humano surgiu após Luc
Arnal, autor principal da pesquisa, ouvir a reclamação de um
colega.

"Comecei a me interessar pelos gritos quando um amigo me disse que o som de
seu filho recém-nascido literalmente sequestrava o cérebro dele.
Perguntei-me o que fazia com que o som fosse um alarme; tão eficiente" -
explicou o pesquisador da Universidade de Genebra em uma entrevista. Para
sanar a dúvida, Arnal e a equipe liderada por ele selecionaram trechos
retirados de vídeos divulgados na internet, de filmes populares, além de
gritos emitidos por voluntários em cabines de som do
laboratório.
Participantes ouviram as gravações enquanto eram submetidos a uma
tecnologia de monitoramento cerebral avançada. Usando o método de
neuro-imagem de ressonância magnética, observamos que o grito, assim como os
alarmes artificiais; as campainhas, por exemplo, aumentam a activação da
resposta de medo na amígdala humana, que está envolvida no processamento de
perigo e na aprendizagem do medo. “Percebemos que os gritos ativam o
circuito do medo. A amídala é um núcleo no cérebro especialmente sensível a
informações sobre o medo. Isso significa que os gritos são considerados não
apenas um som, mas um gatilho para a conscientização”, afirmou David
Poeppel, um renomado neurocientista norte-americano.
Com os gritos, os pesquisadores mapearam sua “aspereza”, uma descrição
acústica para o quão rápido um som mudo de volume. Enquanto a fala
normal varia entre quatro e cinco hertz, unidade de medida de
frequência, os gritos vão de 30 a 150 hertz, simbolizando também que
quanto maior a variação de som, mais aterrorizante ele será.
Para os cientistas, essa é uma pista sobre como o cérebro processa o
perigo por meio de sons que se registra. Gritar serve não só para
transmitir perigo, mas também para provocar o medo no ouvinte e aumentar
a consciência sobre um evento urgente para ambos, quem grita e quem
escuta.
Os pesquisadores acreditam que essas constatações mostram o quanto esse
tipo de som pode ser explorado como um sinal de alerta, já que ele pode
avisar ao cérebro da existência de um perigo iminente. Os gritos são
realmente eficientes em fazer isso. Por exemplo, os gritos ásperos são
localizados mais rápido e de melhor forma pelos circuitos cerebrais do
que a voz, completa Arnal.
Efeitos terapêuticos do grito
O grito pode também aliviar o efeito de estresse, libertando a pessoa que a solta do medo, a tornando mais forte com energias restauradas.
Nas comunidades africanas, é possível notar nas danças tradicionais um grito que era proferido pelos guerreiros como simbolismo de coragem, bravura e/ou para expantar o medo (neles) e semear no inimigo em campos de batalha.
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