"Cada um dos filhos sabe perfeitamente o que ele deixou"
Segundo a fonte, o
antigo chefe de Estado era "pragmático" e "terá dado a cada um
dos filhos aquilo que achava que cada um devia ter", chamando "cada
um a seu tempo".
"Cada um dos filhos sabe perfeitamente o
que ele deixou", acrescentou, admitindo que "ainda muita água vai correr debaixo da
ponte", já que o chefe de Estado não deixou por escrito a sua última
vontade.
Entretanto, o
Governo angolano deu indicações aos advogados que o representa em Barcelona
para averiguar se José Eduardo dos Santos poderia encontrar-se em situação
ilegal, como foi noticiado pelo Club K, tendo afastado essa possibilidade.
"Se fosse um
imigrante ilegal, o assunto já estaria resolvido", disse a fonte,
indicando que José Eduardo dos Santos era tratado pelos mesmos médicos em
Barcelona há vários anos e gozava do mesmo estatuto de quando era Presidente,
que lhe permitia permanecer o tempo necessário em Espanha para tratamento
médico na clínica Teknon, onde morreu, no dia 08 de julho, com 79 anos.
"Ele não era
residente em Espanha, e sim em Angola. Tinha uma equipa de apoio, com cerca de
15 pessoas, afectas ao seu serviço e à sua escolta e esta sim, era rendida a
cada 30 dias. Os únicos que tinham visto de longa duração eram o Presidente, o
seu médico pessoal e o chefe da escolta, mas José Eduardo dos Santos não tinha
necessidade de sair de Espanha, até porque estava muitas vezes internado",
detalhou.
A questão foi
levantada pelo site Club K, segundo o qual o juiz espanhol que julga a causa
"descobriu" que o ex-Presidente estaria ilegal em Espanha pois tendo
entrado com passaporte diplomático ( que não requer visto de entrada),
excedeu o tempo que lhe era permitido e não solicitou o visto para permanência
no país.
Segundo a filha
Tchizé dos Santos, as pessoas com passaporte diplomático podem entrar
livremente nos países, mas não podem permanecer mais de 90 dias, e "se o
fizerem terão de tratar de um cartão de residente", que José Eduardo dos
Santos não possuía.
"A embaixada,
o Governo de Angola, não tratou nada e nem precisavam de fazê-lo. Bastava dar
um estatuto diplomático ao eng. Jose Eduardo dos Santos e registá-lo com esse
estatuto junto do Ministério das Relações Exteriores espanhol para ele constar
da lista do corpo diplomático. Assim, hoje em dia poderiam ser eles a mandar
por que a casa do eng. Eduardo dos Santos seria território de Angola, seria uma
casa diplomática, o que nunca ocorreu", disse, numa mensagem de voz
enviada à Lusa.
Esta poderá ser uma
semana decisiva para o tribunal espanhol, que pediu exames toxicológicos
complementares à autópsia, adiando a decisão judicial sobre a guarda e eventual
trasladação do corpo do ex-presidente para Angola.
O tribunal deverá
também convocar as autoridades policiais e migratórias espanholas, para apurar
a legalidade da permanência de Eduardo dos Santos no país ibérico e onde era de
facto a sua residência.
Duas facções da
família dos Santos disputam, na Vara de Família do Tribunal Civil da Catalunha,
quem ficará com a guarda do corpo de José Eduardo dos Santos.
De um lado, está
Tchizé dos Santos e os irmãos mais velhos, que se opõem à entrega dos restos
mortais à ex-primeira dama e são contra a realização de um funeral de Estado
antes das eleições para evitar aproveitamentos políticos.
Do outro, está a
viúva Ana Paula dos Santos e os seus três filhos em comum com José Eduardo dos
Santos, que reivindicam também o corpo e querem que este seja enterrado em
Angola nos próximos tempos.
Esta pretensão é
apoiada pelo Governo angolano que anunciou a intenção de fazer um funeral de
Estado, mas teve de se contentar com sete dias de luto nacional e um velório
sem corpo, enquanto a disputa prossegue nas instâncias judiciais, a quatro dias
do início da campanha para as eleições gerais, tornando-se num facto político
que está a marcar a corrida eleitoral.
Em entrevista no
domingo a meios de comunicação social angolanos, o ministro de Estado e chefe
da Casa Militar do Presidente da República, que lidera a delegação que
representa o Estado angolano, general Francisco Furtado, mostrou-se confiante
num desfecho favorável, salientando que os cidadãos angolanos e a comunidade
internacional querem ver "o problema resolvido".
"Toda a Nação
angolana quer a presença do seu antigo líder no país para lhe render a merecida
homenagem", disse Francisco Furtado, sublinhando que se as autoridades
espanholas tiverem em conta as razões que levaram o ex-presidente a Barcelona
"não haverá outro desfecho que não seja o regresso do corpo para
Luanda".